Lembro-me dos 12 meses que passei em Rondônia e
dos 3 meses que fiquei baseado na Floresta Nacional do Bom Futuro,
quando minha tropa foi precursora da operação chamada de "Caipora" em
2009, lá na Floresta Nacional do Bom Futuro. Base Saracura,
Linha 01, Linha 81, Base Jaci-Paraná (acho que eram essas as bases, se
não me falha a memória). Minha primeira medida foi ter "batido de
frente", para a melhoria da nossa estrutura logística, entrei direto em
contato com o assessor do Ministro do Meio Ambiente, à época Carlos
Minc, tendo a operação se estruturado logo após isso. Lembro da primeira
noite em um acampamento improvisado, quando a chuva baixou totalmente o
moral da tropa, devastando e desabrigando todos nós! Lembro dos FN,
especialistas em tudo, que sozinhos montaram toda uma estrutura para
suspensão das nossas barracas, para que a chuva finalmente não mais nos
alcançasse. Lembro das escalas permanentes, que eu havia implantado com
descansos na própria base, tudo para o zelo da nossa segurança e para
que o efetivo nunca se dividisse, lembro das apurações que fui submetido
sobre a carga-horária das escalas. Lembro do exército nos deixando na
mão por diversas vezes, levando embora até a brita para melhorar a lama.
Lembro da maldita malária que causou a baixa de parte da minha tropa.
Lembro das gotas de hipoclorito na água. Banhos em igarapés, banheiros
improvisados. Lembro da quentinha fornecida pelo exército, havia terra
na comida, o frango cru e dos almoços e jantas somente com feijão e
arroz. Após este fatídico início uma estrutura gigantesca foi montada:
geradores, caminhões, barracas, localizadores, antenas de rádio melhores
que a da Brigada de Infantaria de Selva do EB, receptores de internet e
telefone via satélite, instalados pelo Sistema de Proteção da Amazônia,
viaturas com sistema de alerta e monitoramento, até helicóptero baseado
permanentemente tínhamos lá, para todo o tipo de deslocamento. Efetivos
permanentes da ABIN, do IBAMA e do ICMBio permaneciam conosco no local,
passando pelas mesmas coisas. Lembro da minha revolução espiritual,
como no filme Na Natureza Selvagem. Membros da alta cúpula do MJ, da
SENASP e do DFNSP constantemente nos visitavam e davam suporte. Todos
cumpriam seu papel: Cadastramos e notificamos a população para
desintrusão da Vila do Rio Pardo e retirada do gado. Houve a lavratura
de milhares de reais em multas para proteção ambiental. Houveram
confrontos com a população local, mas sem maiores incidentes. Ninguém
morreu. Nem de malária, nem de fome, nem de hepatite, nem de pedrada e
nem de tiro. Agora estamos em 2013, quase 2014, o que saiu de errado
nesta Operação? Quais os motivos que levaram este policial a morrer?
Havia estrutura para socorro aéreo ou terrestre até a capital Porto
Velho? Houve o empenho adequado de recursos logísticos? O número de
militares foi adequado? Havia LEGALIDADE no desenvolvimento desta
operação? Havia contato telefônico ou via rádio com a tropa? Os
equipamentos eram adequados? Houve tempo para, em Brasília, ser
confeccionado um planejamento adequado e pontual para esta operação? Os
assessores técnicos da FN foram ouvidos sobre a realização e o
desenvolvimento da mesma? Quantos foram antes no local e fizeram ações
de reconhecimento, a fim de saber o real ânimo da população? Muitas são
as dúvidas, mas o resto exato foi um soldado tombado no exercício de
suas atribuições... Que isso sirva de aprendizado, para que erros não se
repitam, e para que haja uma verdadeira reflexão; que todos repensem
suas atitudes e se elas realmente são as melhores para a instituição que
se pertence e principalmente se são as melhores para aqueles que nos
pagam o salário, ou seja, o povo brasileiro.
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